Categoria: inferências a lucílio

ploc de inferencia lucilio

11 de setembro de 2025

Carta 94 – Frequentemente, o nosso espírito finge não ver o que é evidente; há por isso que obrigá-lo a reparar mesmo nas coisas mais banais.

Aquela parte da filosofia que proporciona os conselhos adequados a cada indivíduo e se destina, portanto, não à formação do homem em geral (1) , mas sim, por exemplo, a indicar ao marido como comportar-se em relação à mulher, ao pai como educar os filhos, ao senhor como dirigir os escravos, houve filósofos que a aceitaram como única e exclusiva, pondo de lado todas as outras partes a pretexto de que elas não oferecem qualquer utilidade […]

10 de setembro de 2025

Carta 93 – Façamos com que a nossa vida, à semelhança dos materiais preciosos, valha pouco pelo espaço que ocupa, e muito pelo peso que tem.

Na carta em que lamentavas a morte do filósofo Metronacte – como se ele tivesse podido, ou devido, viver mais tempo! – verifiquei a ausência daquele espírito de equidade que possuis em abundância em relação a todas as pessoas e a todas as atividades, mas que te falta precisamente no mesmo ponto em que toda a gente claudica: tenho encontrado muitos que sabem ser justos para com os homens, ninguém que o […]

9 de setembro de 2025

Carta 92 – bem está no meu discernimento ao escolher, e não no objeto da escolha.

Creio que estaremos ambos de acordo em que é para proveito do corpo que procuramos os bens exteriores; em que a penas cuidamos do corpo para benefício da alma, e em que na alma há uma parte meramente auxiliar – a que nos assegura a locomoção e a alimentação – da qual dispomos tão somente para serviço do elemento essencial. No elemento essencial da alma há uma parte irracional e outra racional; a […]

8 de setembro de 2025

Carta 91 – Todas as obras dos mortais estão afetadas de mortalidade.

O nosso amigo Liberal anda estristecido com a notícia do incêndio que devastou a colónia de Lião. E, de fato, uma calamidade destas afligiria qualquer pessoa, quanto mais um homem tão apegado à sua terra natal. Este acidente faz com que ele não consiga encontrar aquela firmeza de ânimo que julgava possuir, embora, na realidade, ele só estivesse preparado para desgraças que concebia como possíveis. Neste caso, contudo, dada a inexistência de […]

7 de setembro de 2025

Carta 90 – A virtude, na realidade, não é um dom da natureza: ser bom necessita estudo.

Quem duvidará, Lucílio amigo, que, se devemos a vida aos deuses imortais, é à filosofia que devemos a vida virtuosa? Por esta razão, porque consideramos justamente a vida virtuosa como superior à vida em si, pareceria que a nossa dívida para com a filosofia seria muito maior do que a que temos para com os deuses se não fosse o caso de terem sido os deuses […]

6 de setembro de 2025

Carta 89 – A sabedoria é o bem supremo do espírito humano, enquanto a filosofia é o amor, o impulso pela sabedoria; aquela aponta o fim que esta alcança.

Pretendes conhecer uma matéria útil, necessária mesmo, a quem deseja iniciar-se na filosofia: quais são as suas divisões, como se reparte toda essa massa de conhecimentos, pois nos é mais fácil abarcar o todo se o formos abordando por partes. Seria bom que, tal como a totalidade do aspecto do universo se nos apresenta ante os olhos, assim também a filosofia – ciência com as dimensões do universo! – nos […]

5 de setembro de 2025

Carta 88 – O único estudo verdadeiramente liberal é aquele que torna o homem livre

Queres saber o que eu penso das “artes liberais”: não admiro, nem incluo entre os bens autênticos um estudo que tenha por fim o lucro. São conhecimentos subsidiários, úteis apenas enquanto servem de preparação ao intelecto, mas desde que não sejam a sua única ocupação. Somente devemos deter-nos na sua prática enquanto o nosso espírito não for capaz de tarefa mais alta; são somente exercícios, não obras a sério. Compreendes […]

4 de setembro de 2025

Carta 87 – É diferente a condição das coisas vantajosas e a dos bens. Uma coisa é vantajosa quando tem mais utilidade do que inconvenientes; um bem é um valor absoluto totalmente incapaz de ocasionar o mal.

Naufraguei antes mesmo de embarcar! Não vou dizer-te como isto sucedeu, mas não fiques pensando que se trata de mais algum paradoxo estóico. Quando quiseres, aliás, – e mesmo que o não queiras! – , hei-de provar-te que nenhum destes paradoxos é falso nem tão estranho como parece à primeira vista. Entretanto este meu passeio ensinou-me como nos agarramos a tantas superfluidades de que, racionalmente, poderíamos prescindir, – tantas coisas de que nem […]

3 de setembro de 2025

Carta 86 – Como não hei-de admirar uma grandeza de alma tal que levou Cipião ao exílio voluntário para aliviar a cidade da sua influência?

Escrevo-te esta carta instalado por um tempo na própria vila de Cipião Africano, após ter prestado culto aos seus manes e a um altar que suspeito sirva de túmulo a esse ilustre varão. Estou persuadido de que a sua alma regressou ao céu donde provinha, persuasão que não vem de ele ter comandado enormes exércitos (afinal, exércitos também os teve o louco Cambises, que soube bem tirar partido da sua […]

2 de setembro de 2025

Carta 85 – Coragem não significa temeridade inconsiderada, significa, sim, saber distinguir entre o que é mal e o que não o é.

Eu estava decidido a poupar-te e a passar por alto todos os pontos intrincados ainda subsistentes nesta matéria, contentando-me em dar-te apenas a “provar” os argumentos usados pelos pensadores estóicos para demonstrar que a virtude é o único meio necessário e suficiente para se atingir a felicidade na vida. Tu, porém, exiges-me que eu passe em revista todos os silogismos usados quer pelos nossos, quer pelos que pretendem pôr em cheque as nossas teorias. […]