Tag: morte

18 de setembro de 2025

Carta 101 – Apressa-te a viver, caro Lucílio, imagina que cada dia é uma vida completa.

Cada dia, cada hora nos mostra até que ponto nós não somos nada e descobre sempre novos argumentos para chamar a atenção de quem se esquece da fragilidade humana, e faz planos para a eternidade, vendo-se de chofre coagido a pensar na morte. Já estás tu a perguntar-me onde é que eu pretendo chegar com este proémio! Tu conhecias Cornélio Senecião, um cavaleiro romano brilhante e obsequioso que se […]

10 de setembro de 2025

Carta 93 – Façamos com que a nossa vida, à semelhança dos materiais preciosos, valha pouco pelo espaço que ocupa, e muito pelo peso que tem.

Na carta em que lamentavas a morte do filósofo Metronacte – como se ele tivesse podido, ou devido, viver mais tempo! – verifiquei a ausência daquele espírito de equidade que possuis em abundância em relação a todas as pessoas e a todas as atividades, mas que te falta precisamente no mesmo ponto em que toda a gente claudica: tenho encontrado muitos que sabem ser justos para com os homens, ninguém que o […]

18 de agosto de 2025

Carta 70 – Morrer mais tarde – é questão irrelevante; relevante é, sim, saber se se morre com dignidade ou sem ela!

Ao fim de longo tempo revisitei a tua querida cidade de Pompeias. Voltei a contemplar a minha adolescência; tudo quanto por lá fizera em jovem parecia-me poder ainda fazê-lo, parecia-me tê-lo feito há um instante. Ah! Lucílio amigo, temos vindo a navegar ao longo da vida e, assim como no mar, segundo as palavras de Vergílio, as terras e as cidades se perdem no horizonte Vergílio, Aen., III, 71 assim […]

17 de agosto de 2025

Carta 69 – Os vícios tentam-te oferecendo paga em troca

Não me agrada que andes sempre a mudar de terra, a saltitar de lugar para lugar, primeiro porque tão frequentes mudanças denotam um ânimo instável: nunca te sentirás firme na tua vida privada se primeiro não pões fim a essas deambulações indecisas! Se queres dominar o teu espírito começa por deter as peregrinações do teu corpo. Depois, porque os remédios são sobretudo eficazes se aplicados com continuidade: a tranquilidade, o […]

11 de agosto de 2025

Carta 63 – Ó desgraçada estultícia a nossa, que até da própria dor faz uma arma de propaganda!

Lamento profundamente o falecimento do teu amigo Flaco, no entanto entendo que a tua dor não deve ultrapassar os limites do razoável. Não ousaria exigir de ti que não sentisses o mínimo abalo perante o fato, embora isso fosse o ideal. Uma tal firmeza de ânimo, contudo, apenas está ao alcance de quem já se alçou muito acima das contingências da fortuna. E mesmo um homem assim não […]

9 de agosto de 2025

Carta 61 – Ninguém é infeliz quando faz algo porque o mandam, mas sim quando o faz de má vontade

Deixemos de desejar aquilo que já algum dia quisemos. Eu, por minha parte, faço o possível por não ter em velho os desejos que tinha em garoto. Os meus dias e as minhas noites, os meus esforços e pensamentos têm como objetivo pôr termo aos meus antigos defeitos. Procedo de modo a que cada dia seja o equivalente de uma vida inteira; mas, Hércules me valha!, não […]

6 de agosto de 2025

Carta 58 – Em que podem as “ideias” de Platão fazer de mim um homem melhor?

Até que ponto é grande a nossa pobreza, direi mesmo a nossa indigência vocabular, nunca o tinha compreendido tão bem como hoje. Estávamos casualmente falando de Platão: mil noções se nos depararam carentes, mas desprovidas, de um vocábulo apropriado; em contrapartida há muitas outras que tiveram nome, caído em desuso devido ao nosso gosto requintado. Ora ter gostos requintados no meio da indigência é insuportável ! Àquele inseto que atormenta […]

2 de agosto de 2025

Carta 54 – A morte é o não ser; e este estado conheço-o eu perfeitamente: o “depois de mim” será idêntico ao “antes de mim”

A falta de saúde tinha-me permitido gozar uma prolongada licença, mas de repente abateu-se de novo sobre mim. Vais perguntar-me qual foi desta vez a doença, e tens razão em fazê-lo, pois não há maleita que eu não tenha experimentado. Há uma, porém, à qual desde sempre tenho sido fiel; e a essa doença não vejo razão para designá-la com o seu nome grego de asma, pois […]

28 de julho de 2025

Carta 49 – Dá-me coragem para encarar as dificuldades, para afrontar o inevitável; torna-me menos angustiante a falta de tempo.

Lembrarmo-nos de um amigo só porque a contemplação de um determinado local no-lo traz à memória significa, meu caro Lucílio, uma certa indolência e indiferença do espírito. É, no entanto, verdade, que a vista de um sítio familiar desperta, por vezes, saudades bem enraizadas na nossa alma; não é uma recordação apagada que ressuscita, é uma lembrança ténue que se aviva. O caso assemelha-se ao das […]

15 de julho de 2025

Carta 36 – A fortuna não tem poder sobre o carácter.

Incita esse teu amigo a animosamente não ligar importância a quem o censura por se acolher à obscuridade da vida privada, por desistir das suas grandezas, por ter preferido a tranquilidade a tudo o mais, apesar de poder ainda avançar na sua carreira. Mostra a essa gente que ele trata diariamente dos próprios interesses da forma mais útil. Aqueles que pela sua posição elevada suscitam a […]