6 de agosto de 2025

Carta 58 – Em que podem as “ideias” de Platão fazer de mim um homem melhor?

Até que ponto é grande a nossa pobreza, direi mesmo a nossa indigência vocabular, nunca o tinha compreendido tão bem como hoje. Estávamos casualmente falando de Platão: mil noções se nos depararam carentes, mas desprovidas, de um vocábulo apropriado; em contrapartida há muitas outras que tiveram nome, caído em desuso devido ao nosso gosto requintado. Ora ter gostos requintados no meio da indigência é insuportável ! Àquele inseto que atormenta […]

4 de agosto de 2025

Carta 56 – Que interessa, afinal, que à nossa volta reine o silêncio se dentro de nós se agitarem as paixões ?

Eu morra se o silêncio é tão necessário como parece a quem se entrega ao estudo! Aqui estou eu agora, rodeado de barulho por todos os lados, pois estou vivendo por cima de um balneário. Imagina toda a casta de ruídos capazes de porem os ouvidos no desespero: se são os fortalhaços a treinar-se erguendo nas mãos pesados halteres de chumbo, quando não conseguem ou fingem não […]

2 de agosto de 2025

Carta 54 – A morte é o não ser; e este estado conheço-o eu perfeitamente: o “depois de mim” será idêntico ao “antes de mim”

A falta de saúde tinha-me permitido gozar uma prolongada licença, mas de repente abateu-se de novo sobre mim. Vais perguntar-me qual foi desta vez a doença, e tens razão em fazê-lo, pois não há maleita que eu não tenha experimentado. Há uma, porém, à qual desde sempre tenho sido fiel; e a essa doença não vejo razão para designá-la com o seu nome grego de asma, pois […]

2 de agosto de 2025

Carta 53 – “eu não estou disposta a aceitar o tempo que vos sobejar, vós é que tereis apenas aquele de que eu não necessite”

O que não deixarei eu convencer-me a fazer depois de me ter deixado persuadir a uma viagem por mar? Quando parti estava o mar calmo; o céu estava, em boa verdade, coberto de nuvens escuras, daquelas que quase sempre resultam em vento ou em chuva, mas pensei que podia abreviar aquelas poucas milhas que vão da tua Parténope até Putéolos, mesmo com o céu dúbio e […]

31 de julho de 2025

Carta 52 – Que satisfação te podem dar os aplausos de gente que tu não tens motivo para aplaudir?

Que tendência é esta, Lucílio, que nos desvia do rumo pretendido, que nos empurra para o ponto donde pretendemos sair? Que debate se desenrola na nossa alma e nos impede de manter uma vontade firme? Andamos à deriva entre resoluções contrárias; não conseguimos ser fiéis a uma vontade livre, absoluta, constante. Dirás tu que é prova de insensatez não ter um propósito contínuo, um interesse permanente. […]

30 de julho de 2025

Carta 51 – A fortuna declarou-me guerra. Eu não obedeço às suas ordens, o que implica ainda maior coragem.

Cada um faz como pode, Lucílio amigo ! Tu estás aí ao pé do Etna, a famosíssima montanha da Sicília, à qual Messala, ou Válgio (encontrei o adjetivo em ambos) apelidou de “única”, nunca percebi porquê. Há muitas regiões vulcânicas, não só montanhosas, que é o caso mais frequente talvez devido à tendência que o fogo tem para subir, mas mesmo regiões de planície. Eu por […]

29 de julho de 2025

Carta 50 – Ninguém atingiu a sabedoria sem primeiro passar pela insensatez! Todos temos o inimigo dentro de casa

Recebi a tua carta muitos meses depois de ma teres enviado. Julguei, por isso, que seria inútil perguntar ao mensageiro como ia a tua vida. Era preciso que ele tivesse uma memória de ferro para se recordar. De resto, espero que tu já vivas de modo tal que, onde quer que estejas, eu possa sempre saber como vai a tua vida. Em que consiste, de fato, […]

28 de julho de 2025

Carta 49 – Dá-me coragem para encarar as dificuldades, para afrontar o inevitável; torna-me menos angustiante a falta de tempo.

Lembrarmo-nos de um amigo só porque a contemplação de um determinado local no-lo traz à memória significa, meu caro Lucílio, uma certa indolência e indiferença do espírito. É, no entanto, verdade, que a vista de um sítio familiar desperta, por vezes, saudades bem enraizadas na nossa alma; não é uma recordação apagada que ressuscita, é uma lembrança ténue que se aviva. O caso assemelha-se ao das […]