16 de setembro de 2025

Carta 99 – Ganhes mais coragem contra a fortuna e consideres os seus golpes não apenas como possíveis, mas como inevitáveis e contínuos.

Venho enviar-te uma cópia da carta que escrevi a Marulo aquando da morte de um filho de tenra idade – morte que, dizia-se, ele suportou, com quase nula coragem! Nesta carta não segui o nosso processo habitual, nem achei por bem falar-lhe brandamente, pois o nosso homem mais merecia ser repreendido que consolado. Uma pessoa que fica perturbada e mal consegue aguentar um golpe profundo tem de ir recuperando a pouco e pouco, até […]

15 de setembro de 2025

Carta 98 – Esquecido do trampolim que é a vida humana, convence-se de que no seu caso, por exceção , o acaso deixará de se fazer sentir.

Acredita que ninguém é feliz quando teme pela sua felicidade. Não se apoia em bases sólidas quem tira a sua satisfação de bens exteriores, pois acabará por perder o bem-estar que obteve. Pelo contrário, um bem que nasce dentro de nós é permanente e constante, e vai sempre crescendo até ao nosso último momento; todos os demais bens ante os quais se extasia o vulgo são bens […]

14 de setembro de 2025

Carta 97 – A sorte pode evitar a muitos o castigo, mas a ninguém evita o medo.

Enganas-te, caro Lucílio, se pensas que o luxo, o desprezo pelos bons costumes e aquilo que cada um em geral critica na sua própria época são vícios do nosso tempo: tudo isso é próprio dos homens, não das épocas. Nenhuma era esteve isenta de culpa. Se te puseres a avaliar o desregramento de cada época, (envergonho-me de o dizer!), nunca ele foi mais patente do que no […]

13 de setembro de 2025

Carta 96 – Viver é ser soldado, Lucílio!

Continuas então a indignar-te ou a lamentar-te disto ou daquilo, sem entenderes que o único mal efetivo é o próprio fato de tu te indignares ou te lamentares?! Se queres saber a minha opinião, eu entendo que nenhum motivo de aflição existe para o homem além da própria circunstância de ele julgar que a natureza contém em si motivos de aflição. No dia em que eu deixar de poder […]

12 de setembro de 2025

Carta 95 – Um homem que seja bom por acaso não dá garantias de que será sempre bom!

Pedes-me que trate de uma matéria que há tempo te disse dever ser adiada para tempo oportuno, e dedique uma carta a expor se aquela parte prática da filosofia a que os gregos dão o nome de paraenetice e nós o de praeceptiua basta só por si para se atingir a plena sabedoria. Sei que não me levarias a mal se eu me recusasse ao teu pedido. Por isso mesmo […]

11 de setembro de 2025

Carta 94 – Frequentemente, o nosso espírito finge não ver o que é evidente; há por isso que obrigá-lo a reparar mesmo nas coisas mais banais.

Aquela parte da filosofia que proporciona os conselhos adequados a cada indivíduo e se destina, portanto, não à formação do homem em geral (1) , mas sim, por exemplo, a indicar ao marido como comportar-se em relação à mulher, ao pai como educar os filhos, ao senhor como dirigir os escravos, houve filósofos que a aceitaram como única e exclusiva, pondo de lado todas as outras partes a pretexto de que elas não oferecem qualquer utilidade […]

10 de setembro de 2025

Carta 93 – Façamos com que a nossa vida, à semelhança dos materiais preciosos, valha pouco pelo espaço que ocupa, e muito pelo peso que tem.

Na carta em que lamentavas a morte do filósofo Metronacte – como se ele tivesse podido, ou devido, viver mais tempo! – verifiquei a ausência daquele espírito de equidade que possuis em abundância em relação a todas as pessoas e a todas as atividades, mas que te falta precisamente no mesmo ponto em que toda a gente claudica: tenho encontrado muitos que sabem ser justos para com os homens, ninguém que o […]

9 de setembro de 2025

Carta 92 – bem está no meu discernimento ao escolher, e não no objeto da escolha.

Creio que estaremos ambos de acordo em que é para proveito do corpo que procuramos os bens exteriores; em que a penas cuidamos do corpo para benefício da alma, e em que na alma há uma parte meramente auxiliar – a que nos assegura a locomoção e a alimentação – da qual dispomos tão somente para serviço do elemento essencial. No elemento essencial da alma há uma parte irracional e outra racional; a […]

8 de setembro de 2025

Carta 91 – Todas as obras dos mortais estão afetadas de mortalidade.

O nosso amigo Liberal anda estristecido com a notícia do incêndio que devastou a colónia de Lião. E, de fato, uma calamidade destas afligiria qualquer pessoa, quanto mais um homem tão apegado à sua terra natal. Este acidente faz com que ele não consiga encontrar aquela firmeza de ânimo que julgava possuir, embora, na realidade, ele só estivesse preparado para desgraças que concebia como possíveis. Neste caso, contudo, dada a inexistência de […]

7 de setembro de 2025

Carta 90 – A virtude, na realidade, não é um dom da natureza: ser bom necessita estudo.

Quem duvidará, Lucílio amigo, que, se devemos a vida aos deuses imortais, é à filosofia que devemos a vida virtuosa? Por esta razão, porque consideramos justamente a vida virtuosa como superior à vida em si, pareceria que a nossa dívida para com a filosofia seria muito maior do que a que temos para com os deuses se não fosse o caso de terem sido os deuses […]