17 de julho de 2025

Carta 38 – O que é necessário não é a abundância, mas sim a eficácia das palavras

Tens toda a razão em exigir que tornemos mais frequente esta nossa troca de cartas. A conversação é sobremaneira útil, porquanto se grava no espírito a pouco e pouco; os discursos preparados e pronunciados perante um auditório, se se revestem de mais aparato, carecem de familiariedade. Digamos que a filosofia é um bom conselho: ora ninguém dá conselhos em público! Uma vez por outra pode ser necessário […]

16 de julho de 2025

Carta 37 – Terás de morrer sem te curvares, sem te deixares vencer.

O laço mais forte a prender-te à prática da virtude é este: comprometeste-te a ser um homem de bem, confirmaste-o por um juramento. Se te disserem que se trata de uma militância ligeira e fácil estão troçando de ti. Não pretendo enganar-te. Quer na mais nobre quer na mais vil das carreiras (1) a fórmula de compromisso é idêntica: jurar submeter-se “ao fogo, às cadeias, à morte pelas […]

15 de julho de 2025

Carta 36 – A fortuna não tem poder sobre o carácter.

Incita esse teu amigo a animosamente não ligar importância a quem o censura por se acolher à obscuridade da vida privada, por desistir das suas grandezas, por ter preferido a tranquilidade a tudo o mais, apesar de poder ainda avançar na sua carreira. Mostra a essa gente que ele trata diariamente dos próprios interesses da forma mais útil. Aqueles que pela sua posição elevada suscitam a […]

14 de julho de 2025

Carta 35 – Vem depressa até mim, mas chega primeiro até ti mesmo!

Ao incitar-te insistentemente ao estudo da filosofia estou trabalhando em meu proveito: é que eu pretendo ter um amigo, e não poderei consegui-lo se tu não continuares a cultivar-te como tens feito. Neste momento tens estima por mim, mas ainda não és meu amigo. “Que dizes? Então uma coisa não implica a outra?” Não, são mesmo coisas muito diferentes, porque, se a amizade é sempre proveitosa, […]

13 de julho de 2025

Carta 34 – Não segue o caminho da verdade aquele cujos atos discordam do que afirma

Sinto-me pleno de exaltação, sinto que a velhice perde peso e ganha forças sempre que vejo, em quanto fazes e escreves, até que ponto tu (que já te retiraras do vulgo) fazes progressos sobre ti próprio. Se o prazer que o agricultor sente pela árvore, culmina quando ela dá fruto, se a alegria do pastor lhe vem das crias do seu rebanho, se qualquer homem sente no […]

12 de julho de 2025

Carta 33 – Nós não vivemos em monarquia: cada um conserva a sua autonomia;

Desejas que nesta série de cartas eu vá inserindo também, como nas anteriores, algumas máximas dos nossos mestres. Eles não perderam tempo com floreados: toda a sua obra em conjunto está cheia de vigor. Fica sabendo que uma obra da qual emergem frases notáveis é de valor desigual: não nos quedamos de admiração ante uma árvore quando toda a floresta cresceu até à mesma altura. Máximas do mesmo […]

10 de julho de 2025

Carta 31 – Mostra-te surdo aos conselhos dos que mais te querem bem: com boas intenções, apenas te desejam mal.

Estou reconhecendo o meu Lucílio: já começa a mostrar-se tal como prometia vir a ser. Prossegue com essa disposição de espírito que te permite desprezar todos os bens vulgares e tender apenas para o sumo bem: não pretendo sequer que te tornes maior ou melhor do que te esforçavas por ser. A tua preparação de base era bastante ambiciosa: procura, portanto, atingir somente o alvo que te tinhas proposto e põe em […]

9 de julho de 2025

Carta 30 – Não querer morrer é o mesmo que ter querido não viver

Fui há pouco visitar Aufídio Basso: encontrei esse excelente homem alquebrado, lutando contra a idade. O peso dos anos, porém, já é excessivo para a sua parca energia: a velhice carrega sobre ele com todas as forças. Tu sabes que ele foi sempre um homem de compleição enfermiça e débil; durante algum tempo lá foi aguentando, melhor diria, escorando o seu corpo; agora, subitamente, desistiu. Tal como […]

8 de julho de 2025

Carta 29 – Um bom arqueiro não é o que acerta algumas vezes, mas sim o que só ocasionalmente falha

Perguntas-me como vai e o que faz o nosso amigo Marcelino. Ele vem pouco a minha casa, pela pura e simples razão de que tem medo de ouvir a verdade. Desse perigo, aliás, está ele livre, pois eu acho que se não deve dizê-la senão a quem está disposto a ouvi-la. Por essa razão se tem posto em causa se Diógenes, bem como os outros cínicos, que falavam sem peias e […]