Categoria: inferências a lucílio

ploc de inferencia lucilio

23 de julho de 2025

Carta 44 – Platão não chegou à filosofia por ser nobre, ela é que o enobreceu

Aí estás de novo a portar-te como um garoto, a queixar-te de seres pouco dotado pela natureza, a princípio, pela fortuna em seguida, quando afinal está na tua mão distinguires-te do vulgar e ergueres-te ao máximo de felicidade possível ao homem. Se outras vantagens, além de si mesma, a filosofia possui, entre elas se contará a indiferença pelas árvores genealógicas: se buscarmos as mais remotas origens, veremos que todo […]

22 de julho de 2025

Carta 43 – Desgraçado serás tu se desprezares o teu próprio testemunho!

Estás desejoso de saber como tive conhecimento do caso, quem me contou essa ideia tua que tu nunca contaste a ninguém? Foi aquele ser que quase tudo sabe: o boato. “O quê?” – dizes tu – “Eu sou assim tão importante para dar azo a boatos?” Não deves medir-te em relação à distância que te separa de Roma, mas sim em relação ao lugar onde resides. Qualquer […]

21 de julho de 2025

Carta 42 – Quem é dono de si próprio não pode perder nada

Então esse cavalheiro conseguiu convencer-te de que era um homem de bem?! Olha que um homem de bem não é coisa que surja e se reconheça por tal assim tão depressa! E sabes o que eu entendo aqui por “homem de bem”? Apenas o de segunda categoria, porque o de primeira é como a fénix, que só aparece uma em quinhentos anos. Não é de espantar […]

20 de julho de 2025

Carta 41 – Ninguém deve vangloriar-se senão do que lhe pertence

É uma empresa excelente e salutar a tua, se de fato, conforme me escreves, continuas a avançar rumo à sabedoria, a essa sabedoria que, por estar ao teu alcance obtê-la, seria estupidez ir suplicar aos templos. Não é preciso elevar as mãos ao céu nem pedir ao ministro do culto que nos deixe formular votos ao ouvido da estátua do deus, como se assim nos fosse mais […]

19 de julho de 2025

Carta 40 – Como pode então servir para governar os espíritos uma eloquência incapaz de governar-se a si própria?

Agradeço-te a frequência com que me escreves, pois é esse o único meio de que dispões para vires à minha presença. Nunca recebo uma carta tua sem que, imediatamente, fiquemos na companhia um do outro. Se nós gostamos de contemplar os retratos de amigos ausentes como forma de renovar saudosas recordações, como consolação ainda que ilusória e fugaz, como não havemos de gostar de receber uma […]

18 de julho de 2025

Carta 39 – Em vez de os desfrutar, tornam-se escravos do prazer; e, para cúmulo da desgraça, acabam por amar aquilo mesmo que os torna desgraçados.

Descansa que hei-de escrever um tratado de filosofia, bem sistematizado e sintetizado, conforme tu me pedes. Em todo o caso vê se não te será mais útil continuar com o nosso método habitual em vez de empregar estes volumes a que agora se chama vulgarmente “manuais” e a que antigamente, quando ainda se falava latim, se dava o nome de “compêndios”. O primeiro método é sobretudo indispensável […]

17 de julho de 2025

Carta 38 – O que é necessário não é a abundância, mas sim a eficácia das palavras

Tens toda a razão em exigir que tornemos mais frequente esta nossa troca de cartas. A conversação é sobremaneira útil, porquanto se grava no espírito a pouco e pouco; os discursos preparados e pronunciados perante um auditório, se se revestem de mais aparato, carecem de familiariedade. Digamos que a filosofia é um bom conselho: ora ninguém dá conselhos em público! Uma vez por outra pode ser necessário […]

16 de julho de 2025

Carta 37 – Terás de morrer sem te curvares, sem te deixares vencer.

O laço mais forte a prender-te à prática da virtude é este: comprometeste-te a ser um homem de bem, confirmaste-o por um juramento. Se te disserem que se trata de uma militância ligeira e fácil estão troçando de ti. Não pretendo enganar-te. Quer na mais nobre quer na mais vil das carreiras (1) a fórmula de compromisso é idêntica: jurar submeter-se “ao fogo, às cadeias, à morte pelas […]

15 de julho de 2025

Carta 36 – A fortuna não tem poder sobre o carácter.

Incita esse teu amigo a animosamente não ligar importância a quem o censura por se acolher à obscuridade da vida privada, por desistir das suas grandezas, por ter preferido a tranquilidade a tudo o mais, apesar de poder ainda avançar na sua carreira. Mostra a essa gente que ele trata diariamente dos próprios interesses da forma mais útil. Aqueles que pela sua posição elevada suscitam a […]

14 de julho de 2025

Carta 35 – Vem depressa até mim, mas chega primeiro até ti mesmo!

Ao incitar-te insistentemente ao estudo da filosofia estou trabalhando em meu proveito: é que eu pretendo ter um amigo, e não poderei consegui-lo se tu não continuares a cultivar-te como tens feito. Neste momento tens estima por mim, mas ainda não és meu amigo. “Que dizes? Então uma coisa não implica a outra?” Não, são mesmo coisas muito diferentes, porque, se a amizade é sempre proveitosa, […]