Categoria: inferências a lucílio

ploc de inferencia lucilio

21 de setembro de 2025

Carta 104 – Não, não é porque a teoria seja difícil que não ousamos praticá-la; pelo contrário, por nós não ousarmos praticá-la é que ela se nos afigura difícil!

Fui para a minha quinta de Nomento para fugir…imagina a quê? À cidade? Não, a um acesso de febre, de uma febre bastante insidiosa que já começara a agarrar-me com força. O médico dizia que os indícios lá estavam: pulsação acelerada e irregular, completa alteração do ritmo normal. Assim, mandei imediatamente aprestar o carro e, embora Paulina me tentasse reter, teimei em partir para o campo. Veio-me à boca […]

20 de setembro de 2025

Carta 103 – Naufragar, cair de um carro – são desastres eventualmente graves, mas raros.Nas relações humanas, porém, o perigo é coisa de todos os dias.

Porque tomas tu essas precauções todas contra incidentes que, se podem eventualmente ocorrer, podem igualmente nunca vir a verificar-se? Estou-me referindo a incêndios, desmoronamentos e outras calamidades que se podem abater sobre nós, mas sem o propósito deliberado de nos causarem mal. Melhor farias em procurar evitar os perigos reais que nos espreitam na intenção de nos apanhar à traição. Naufragar, cair de um carro – são desastres eventualmente graves, mas raros. Nas relações humanas, porém, […]

19 de setembro de 2025

Carta 102 – É próprio da natureza do homem alargar o seu pensamento a todo o universo.

É bastante incomodativo acordar alguém que está tendo um sonho agradável, pois se lhe rouba um prazer, falso, é certo, mas de efeito similar a um verdadeiro. O mesmo efeito de ruptura me provocou a tua carta: afastou-me da reflexão (e bem adequada era ela!) a que eu estava entregue, e na disposição de a prosseguir enquanto pudesse. Era minha intenção investigar a questão da imortalidade das almas, ou antes, pelos deuses!, […]

18 de setembro de 2025

Carta 101 – Apressa-te a viver, caro Lucílio, imagina que cada dia é uma vida completa.

Cada dia, cada hora nos mostra até que ponto nós não somos nada e descobre sempre novos argumentos para chamar a atenção de quem se esquece da fragilidade humana, e faz planos para a eternidade, vendo-se de chofre coagido a pensar na morte. Já estás tu a perguntar-me onde é que eu pretendo chegar com este proémio! Tu conhecias Cornélio Senecião, um cavaleiro romano brilhante e obsequioso que se […]

17 de setembro de 2025

Carta 100 – Como poderia ser corajoso e firme perante o risco da própria vida um homem angustiado com as palavras?

Dizes-me na tua carta que leste com a maior avidez os livros de Papírio Fabiano intitulados “Da Política” mas que eles não corresponderam à tua expectativa; e, esquecendo-te de que se trata de um filósofo, vais ao ponto de criticar nele a colocação das palavras. Imagina que tens razão, e que ele, em vez de construir rigorosamente as frases, como que as deixa correr. Para começar, este tipo de […]

16 de setembro de 2025

Carta 99 – Ganhes mais coragem contra a fortuna e consideres os seus golpes não apenas como possíveis, mas como inevitáveis e contínuos.

Venho enviar-te uma cópia da carta que escrevi a Marulo aquando da morte de um filho de tenra idade – morte que, dizia-se, ele suportou, com quase nula coragem! Nesta carta não segui o nosso processo habitual, nem achei por bem falar-lhe brandamente, pois o nosso homem mais merecia ser repreendido que consolado. Uma pessoa que fica perturbada e mal consegue aguentar um golpe profundo tem de ir recuperando a pouco e pouco, até […]

15 de setembro de 2025

Carta 98 – Esquecido do trampolim que é a vida humana, convence-se de que no seu caso, por exceção , o acaso deixará de se fazer sentir.

Acredita que ninguém é feliz quando teme pela sua felicidade. Não se apoia em bases sólidas quem tira a sua satisfação de bens exteriores, pois acabará por perder o bem-estar que obteve. Pelo contrário, um bem que nasce dentro de nós é permanente e constante, e vai sempre crescendo até ao nosso último momento; todos os demais bens ante os quais se extasia o vulgo são bens […]

14 de setembro de 2025

Carta 97 – A sorte pode evitar a muitos o castigo, mas a ninguém evita o medo.

Enganas-te, caro Lucílio, se pensas que o luxo, o desprezo pelos bons costumes e aquilo que cada um em geral critica na sua própria época são vícios do nosso tempo: tudo isso é próprio dos homens, não das épocas. Nenhuma era esteve isenta de culpa. Se te puseres a avaliar o desregramento de cada época, (envergonho-me de o dizer!), nunca ele foi mais patente do que no […]

13 de setembro de 2025

Carta 96 – Viver é ser soldado, Lucílio!

Continuas então a indignar-te ou a lamentar-te disto ou daquilo, sem entenderes que o único mal efetivo é o próprio fato de tu te indignares ou te lamentares?! Se queres saber a minha opinião, eu entendo que nenhum motivo de aflição existe para o homem além da própria circunstância de ele julgar que a natureza contém em si motivos de aflição. No dia em que eu deixar de poder […]

12 de setembro de 2025

Carta 95 – Um homem que seja bom por acaso não dá garantias de que será sempre bom!

Pedes-me que trate de uma matéria que há tempo te disse dever ser adiada para tempo oportuno, e dedique uma carta a expor se aquela parte prática da filosofia a que os gregos dão o nome de paraenetice e nós o de praeceptiua basta só por si para se atingir a plena sabedoria. Sei que não me levarias a mal se eu me recusasse ao teu pedido. Por isso mesmo […]