Carta 74 – Guarda no teu espírito esta imagem: a fortuna brinca com os homens, espalha ao acaso entre eles as honras, as riquezas, os favores
A tua carta encheu-me de satisfação e restituiu-me um pouco as forças que me vão faltando; reavivou-me mesmo a memória que já se me vai tornando cansada e lenta. Porque não hás-de considerar, caro Lucílio, que o principal meio para obter a felicidade consiste na convicção de que não há outro bem além do bem moral?
Quem admite a existência de outros bens sujeita-se ao poder da fortuna, fica na dependência de uma vontade alheia; mas quem circunscreve o bem ao bem moral pode ser feliz sem depender de ninguém.
Este homem sente-se vencido pela dor de ter perdido os filhos, aquele outro andará em cuidados por os ver doentes, o outro além estará angustiado por os saber nas bocas do mundo, e mesmo gozando de má reputação; verás também quem ande torturado de amor por uma mulher que lhe não pertence, ou pela sua própria; não faltará quem se atormente devido a um insucesso político; a outros ainda as próprias honras serão motivo de angústia.
Mas entre todos os homens não há grupo mais atormentado do que os que se deixam angustiar pela expectativa da morte continuamente iminente, pois qualquer circunstância a pode originar.
E assim, como quem atravessa um território inimigo, há que estar atento à direita e à esquerda, virar a cabeça ao mínimo rumor. Quem não consegue expulsar do ânimo o medo da morte vive sempre com o coração em ânsias.
Vir-lhe-ão à memória casos de homens mandados para o exílio, privados dos seus bens; vir-lhe-ão à memória casos de pessoas a quem as riquezas de nada valem – a forma mais insuportável de indigência!- ; vir-lhe-ão à memória casos de náufragos, em sentido próprio ou figurado – homens a quem a ira ou a inveja do povo (arma terrível mesmo para os melhores!) destruiu inesperadamente quando nada o fazia prever, à maneira de uma tempestade que surge quando tudo pressagia bom tempo, ou da súbita queda de um raio que faz abalar com a sua força todo o espaço circundante! Neste último caso, quem se encontre perto do local onde o raio tombou fica entorpecido, como se tivesse sido atingido; no primeiro, quando a desgraça inopinadamente abate alguém, todos os restantes ficam tomados de medo, por saberem que a mesma angústia por que os outros passaram pode também tocar-lhes a eles!
Todos se afligem com os males repentinos que caem sobre os outros. Tal como as aves se assustam mesmo com o ruído de uma funda desarmada, também nós nos deixamos atormentar só pelo ruído, e não tanto pela pancada.
Ora ninguém pode sentir-se feliz com esta maneira de pensar. Só há felicidade onde não há medo; não gozamos a vida quando tudo nos faz desconfiar. Quem se confia ao acaso não consegue mais do que uma inesgotável e contínua fonte de cuidados; só há uma via para se alcançar a segurança: desprezar os bens exteriores e contentar-se com o bem moral.
Quem admite a existência de algum bem superior à virtude, quem pensa que pode haver outro bem que não ela, fica sem defesa perante os dons da fortuna, na expectativa ansiosa do que lhe irá caber em sorte.
Guarda no teu espírito esta imagem: a fortuna brinca com os homens, espalha ao acaso entre eles as honras, as riquezas, os favores – mas de tudo isto, umas coisas são dilaceradas entre as mãos dos competidores, outras são mal divididas por sociedades desiguais, outras não se conseguem sem grave dano de quem as obtém.
De tudo isto, umas coisas foram parar às mãos de quem andava a elas alheio, outras, disputadas por demasiados concorrentes, ficaram reduzidas a nada à força de serem ansiosamente pretendidas: em suma, ninguém, mesmo quando o roubo lhe corre de feição, consegue gozar o produto desse roubo até ao dia seguinte! É por isso que um homem verdadeiramente precavido, assim que vê começar a distribuição de presentes, se retira do teatro, pois sabe que muito terá de ceder para conseguir um pequeno favor. Quando um se recusa à disputa e se retira, o outro não vai atacá-lo ou bater-lhe; mas se ambos disputam o prémio, é inevitável o conflito.
O mesmo se passa com as benesses que a fortuna espalha sobre nós: ficamos desgraçadamente excitados, enfurecemo-nos, desejamos ter muitas mãos, viramo-nos ora para um lado ora para outro; dá-nos a impressão de que os bens que nos excitam a cobiça levam demasiado tempo a chegar – esses bens que poucos alcançam mas todos desejam; ansiamos por ir-lhes ao encontro; alegramo-nos quando jogamos a mão a alguma coisa, deixamo-nos iludir pela esperança vã de superarmos alguns rivais, e acabamos por cair no engano de pagar por bom preço uma presa sem valor!
Retiremo-nos, então, destes jogos, cedamos o lugar aos conquistadores! Estes que se deixem estar à espreita desses bens incertos, e permaneçam mais incertos, afinal, eles próprios !. ..
Quem pretender ser feliz tem de admitir que não há outro bem senão o bem moral. Se, em vez disto, considerar a possibilidade de existir outro bem, começará por ajuizar mal da providência, por um lado porque os homens justos sofrem frequentes atropelos, por outro, porque o espaço de tempo que nos é concedido nesta vida é curto, é mesmo ínfimo se o compararmos à vida do universo.
Desta pessimista constatação resultará uma interpretação malévola das intenções divinas; queixamo-nos de não viver sempre, de nos caber em sorte uma vida limitada, incerta, transitória. A consequência é nós não desejarmos viver nem morrer.
Domina-nos o ódio à vida e o medo da morte! Os nossos propósitos andam à deriva e não há felicidade que nos possa contentar. O motivo é simples: não conseguimos atingir aquele bem imenso e insuperável no qual necessariamente a nossa vontade se detém pois não há lugar algum para lá do ponto supremo.
Queres tu saber por que motivo a virtude não carece de coisa alguma? Porque se satisfaz com o que tem à mão, sem ambicionar o que está fora do seu alcance: tudo quanto é bastante lhe parece suficientemente grande.
Imagina agora que não pensas assim e verás como o sentimento de solidariedade para com familiares e amigos logo começa a vacilar, uma vez que quem deseja praticá-la tem de sujeitar-se a muitas situações daquelas que o vulgo considera males e arriscar muito do que temos como bens.
Desaparece a coragem, a qual obriga forçosamente a pôr em risco a própria vida; desaparece a grandeza de alma, a qual só pode manifestar-se quando menosprezamos como coisas sem valor aquelas que o vulgo imagina serem as mais importantes; desaparece a gratidão e o dever de retribuir um favor quando receamos o esforço a dispender, ou julgamos que há algo superior ao dever de lealdade, em suma, quando não tendemos para o bem supremo.
Mas, deixando de lado esta questão, teremos de admitir que, ou aquilo a que chamamos “bens” não o são de fato, ou, se o forem, então o homem é mais feliz do que a divindade, pois aquilo a que o comum dos homens dá valor não tem a mínima utilidade para a divindade; esta, efectivamente, está acima do desejo sexual, do prazer da mesa, da riqueza, de tudo, enfim, que tenta e arrasta consigo o homem, e só o homem, com uma vil forma de prazer.
Consequentemente, ou teremos de acreditar que há bens inacessíveis à divindade, ou então, o fato de a divindade deles prescindir nos servirá de prova de que não são bens. Acrescente-se ainda que muitos dos pretensarnente chamados “bens” são gozados pelos animais mais intensamente do que pelo homem.
Aqueles consomem o alimento com maior apetite, não estão tão sujeitos à fadiga sexual; a sua força muscular é mais intensa e constante: logicamente os animais serão muito mais felizes do que o homem! Na realidade eles passam a vida ignorantes da maldade e do engano; gozam os seus prazeres, e obtêm-nos mais intensa e facilmente, sem qualquer restrição imposta pela vergonha ou pelo arrependimento. Pensa tu, agora, se realmente se pode chamar “bem” a uma coisa relativamente à qual o homem é superior a deus e o animal é superior ao homem!
Devemos circunscrever o bem supremo à alma: degradá-lo-emos se em vez da melhor parte de nós o associarmos antes à pior, se o pusermos na dependência dos sentidos que nos animais sem fala são bem mais apurados do que no homem.
Não devemos atribuir ao corpo o ponto mais alto da nossa felicidade; os bens verdadeiros são aqueles que devemos à razão – bens firmes e duradouros, insusceptíveis de decadência, incapazes de padecerem qualquer decréscimo ou limitação!
Os restantes bens são-no somente na opinião do vulgo; na realidade apenas têm de comum o nome com os bens verdadeiros, mas carecem das propriedades que distinguem um “bem” real.
Chamemo-lhes antes “utilidades” ou, para usar o termo técnico, “recursos desejáveis”, mas sem perder de vista que se trata de “utensílios”, não de partes de nós mesmos; tenhamo-los à mão, mas sem esquecer que são exteriores a nós; e mesmo tendo-os à mão atribuamo-lhes um lugar subalterno e secundário, como coisas de que ninguém se deve orgulhar.
Há coisa mais estúpida do que vangloriarmo-nos de algo que não fizemos? Deixemos que todos esses falsos bens nos caibam em sorte mas sem se colarem a nós de modo a que, se ficarmos sem eles, os vejamos partir sem o mínimo sofrimento.
Usemo-los sem nos ufanarmos deles, e usemo-los moderadamente, como aigo que nos é confiado apenas transitoriamente. Quem quer que os possua sem o controlo da razão não os conserva por muito tempo; até a própria felicidade, se incontrolada, acaba por tornar-se um fardo!
Se confiamos nesses bens mais do que efémeros, em breve ficaremos sem eles, e ao ficar sem eles sobrevém o desgosto! Raros homens têm sido capazes de suportar com tranquilidade a perda da felicidade; a maioria deles, quando caem por terra as condições que os tornaram eminentes, os mesmos fatores que antes os exaltaram ocasionam-lhes agora o abatimento.
Por conseguinte há que usar de prudência para impor à nossa vida medida e moderação, pois a falta de moderação leva velozmente à ruína todos os bens disponíveis, e não há recursos, por mais vastos, que consigam durar se a razão moderadora lhes não põe freio.
Desta verdade pode servir-te de prova a sorte de muitas cidades: cidades cujo poder imenso caiu por terra em pleno apogeu, com a intemperança a arruinar por completo todo o edifício outrora erguido graças à virtude.
Devemos estar precavidos contra semelhantes acidentes. Não há muralha inexpugnável contra os ataques da fortuna: fortifiquemo-nos por dentro; se o nosso íntimo estiver bem seguro, poderemos ser abalados, mas nunca dominados!
Queres saber em que consiste este meio de defesa? Em não nos revoltarmos contra o que nos pode suceder; em termos a convicção de que mesmo o que parece lesar-nos contribui para a conservação do universo como um dos elementos que levam a cabo o curso natural deste mundo; o homem deve aceitar o que também a divindade aceita; e por isto mesmo deve olhar com admiração a sua pessoa, a sua vida – porque nunca poderá ser vencido, porque domina os seus próprios males, porque subjuga pela razão (a sua arma mais forte!) todas as contrariedades, dores e injúrias!
Ama a razão, e este amor tornar-te-á apto a afrontar as mais duras situações. O amor pelas crias precipita as feras contra as armas do caçador, a sua ferocidade, o seu ardor irreflectido torna-as indomáveis; a ambição da glória leva muitos espíritos jovens a afrontarem ferro e fogo; alguns decidem-se pelo suicídio por uma simples aparência, uma sombra de virtude: em todos estes casos, quanto mais forte e persistente se mostra a razão, tanto maior é o ímpeto que leva a defrontar toda a espécie de perigo.
Vejamos uma objeção possível.
“Não tem fundamento a vossa afirmação de que não há outro bem senão o bem moral,· tal convicção nunca vos poderá tornar seguros e imunes aos golpes da fortuna. O facto é que vós considerais como bens possuir filhos respeitosos da família, uma nação moralmente sã, pais bem formados. Ora vós não podeis contemplá-los em perigo e sentir-vos em segurança; o cerco à vossa cidade, a morte dos vossos filhos, a servidão dos vossos pais – tudo isto vos perturbará o espírito.”
Começarei por apresentar a refutação habitual da nossa escola a esta dificuldade, acrescentando em seguida mais alguns argumentos que eu entendo necessários.
Verifica-se uma diferença de estado quando, ao sermos privados de certas particularidades, obtemos em vez delas qualquer particularidade que nos é nociva; por exemplo, se perdemos a saúde, caímos num estado de doença; se ficamos sem acção nos olhos tornamo-nos cegos; se sofremos um golpe nos joelhos, não apenas perdemos a capacidade de andar depressa, como até ficamos incapazes de nos ter em pé.
Ora este perigo não se verifica nas circunstâncias que atrás nos foram objetadas. Ou seja, se porventura perder um bom amigo, isso não me obriga a suportar amigos desleais, nem, se ficar privado de bons filhos, me surgirá em seu lugar o desrespeito pela família.
Além do mais, num caso destes não se trata realmente da morte de amigos ou de filhos, mas apenas dos seus corpos. Um bem somente pode extinguir-se na condição de transformar-se em mal; ora tal condição é impossível por natureza, porquanto toda a virtude e tudo quanto é realizado pela virtude permanece sem a mínima degradação.
Consequentemente, ainda que tenham falecido os amigos, os filhos em tudo conformes aos votos paternos, algo fica para preencher o seu lugar. Sabes o quê? Precisamente aquela propriedade que deles fazia homens bons: a virtude! Esta não deixa vazio algum, antes preenche a totalidade da alma, faz desaparecer toda a saudade, é, ela só, suficiente, pois é nela que reside a origem e a energia de todos os bens.
Que importa se uma corrente de água é interrompida ou desviada, desde que permaneça a salvo a fonte donde ela manava? Não será possível considerar que a nossa vida é mais justa, mais bem ordenada, mais sensata ou mais honesta por termos os filhos vivos: logo também não podemos considerá-la melhor.
A companhia dos amigos não a torna mais sábia, assim como a sua falta não a faz mais insana; logo, a presença ou a ausência deles igualmente a não torna nem mais feliz nem mais desgraçada. Enquanto a virtude se conservar intacta é impossível sentir a falta do que quer que seja.
“Que dizes? Então não somos mais felizes quando nos rodeia um grande número de amigos e filhos?”
Como, mais felizes? Repara que o sumo bem não padece diminuição ou acréscimo; mantém a sua própria grandeza seja qual for o comportamento da fortuna. Quer um homem atinja uma extrema velhice quer se extinga antes de chegar a ela, a grandeza do sumo bem é a mesma, embora a duração da vida seja diversa. Podes desenhar um círculo maior ou menor, a diferença entre eles está na área, mas não na forma; e mesmo que conserves algum tempo um dos desenhos e apagues imediatamente o outro alisando a areia em que o traçaste, ambos tiveram precisamente a mesma forma.
Uma linha reta não se avalia em termos de comprimento, de quantidade, de duração, porquanto é impossível fazê-la encolher ou distender-se. Abrevia quanto quiseres uma vida regida pela moral e, em vez de durar um século, faz com que se limite a um único dia que nem por isso ela será menos moral!
Nuns casos a virtude tem oportunidade de se espraiar, governando países, cidades ou províncias, emitindo leis, cultivando amizades, exercendo os seus deveres para com os familiares, os filhos; noutros casos move-se dentro de estreitos limites impostos pela pobreza, o exílio, a perda da família; não se torna, contudo, menor por trocar uma alta posição social por uma humilde, um cargo governativo pela vida privada, o vasto espaço da ação pública pelo estreito limite da própria casa, dum mísero cantinho!
A virtude será igualmente grande mesmo quando reduzida a si mesma e privada de contactos exteriores. Não perde por isso de forma alguma o seu ânimo elevado e amplo, a sua inigualável prudência, a sua indefectível justiça. Consequentemente, em qualquer dos casos o seu grau de felicidade será o mesmo; tal felicidade reside num único ponto: o próprio espírito; e assim obtém a estabilidade, a grandeza, a tranquilidade, coisas impossíveis de obter sem o conhecimento quer da condição divina, quer da condição humana.
Passemos agora àqueles argumentos pessoais a que acima me referi. O sábio não se aflige com o falecimento dos filhos ou dos amigos; encara a morte deles com o mesmo ânimo com que aguarda a sua hora de morrer, sem sentir medo perante esta tal como não sente sofrimento perante aquela. A virtude, na realidade, baseia-se na congruência: todas as suas realizações se situam ao mesmo nível, numa harmonia perfeita.
Tal congruência desaparece caso a alma – que é sempre e necessariamente elevada – sintomas que pressagiam a moléstia incapacidade de se deixa abater pela dor ou pela saudade.
A ansiedade, a preocupação, sejam de que espécie forem, são tão contrárias à moral como a indolência na ação; o valor moral, porém, mantém-se seguro de si, pronto a agir, livre do medo, sempre alerta.
“Que dizes? Será então incapaz de sentir algo que se assemelhe à perturbação? Não se alterará a cor do rosto, não se agitará o olhar, não sentirá calafrios no corpo? Então e aquelas reações que não derivam da vontade da alma mas provêm irreflectidamente de um qualquer instinto natural?”
Admito que isto possa suceder, mas nem por isso se abalará a convicção de que nenhuma daquelas contrariedades constitui realmente um mal digno de enfraquecer um espírito são.
Tudo quanto for necessário realizar, realizar-se-á com decisão e presteza. De alguém que se move longe da sabedoria pode com razão dizer-se que, quando age, o faz sem empenho ou por mera obstinação – com o corpo a indicar-lhe um caminho e a alma outro, pelo que se sentirá dilacerado por duas tendências de sinal contrário.
Um carácter destes só consegue desprezo pelas acções que, em teoria, o deveriam encher de admiração por si próprio, e faz sem qualquer convicção os atos de que se vangloria. De fato, quando receamos algum mal, o próprio fato de o recearmos atormenta-nos enquanto o aguardamos: teme-se vir a sofrer alguma coisa e sofre-se com o medo que se sente!
Tal como nas doenças físicas há certos sintomas que pressagiam a moléstia: incapacidade de movimento, lassidão completa mesmo quando se não faz nenhum esforço, sonolência, calafrios por todo o corpo – , também um espírito débil se sente abalado, mesmo antes de qualquer mal se abater sobre ele: como que adivinha o mal futuro, e deixa-se vencer antes do tempo.
Há coisa mais insensata do que nos angustiarmos com o futuro em vez de deixarmos chegar a hora da aflição, e atrairmos sobre nós todo um cúmulo de tormentos? Quando não é possível livrarmo-nos por completo da angústia, pelo menos adiemo-la tanto quanto pudermos.
Queres ver como é verdade que ninguém deve atormentar-se com o futuro? Imagina um homem a quem tenha sido dito que depois dos cinquenta anos será submetido a graves suplícios: ele permanece imperturbável enquanto não passa a metade desse espaço de tempo, altura em que começa a aproximar-se da angústia prometida para a segunda metade da sua vida.
Por um processo semelhante sucede também que certos espíritos doentes sempre em busca de motivos para sofrer se deixam tomar de tristeza por fatos já remotos e esquecidos. A verdade é que nem o passado nem o futuro estão presentes, pelo que não podemos sentir qualquer deles. Ora a dor somente pode resultar de algo que se sente!