22 de junho de 2025

Carta 13 – Só aquele que se ergue com mais energia de cada vez que é derrubado pode descer à arena com esperança de vencer.

Por lucianakeiko@gmail.com

Sei que tens muita força de ânimo. Mesmo antes de começares a aprender os nossos preceitos, tão salutares e tão capazes de nos fazerem afrontar vitoriosamente as situações mais duras, já te comprazias em fazer face à fortuna.

Muito mais animoso estás agora depois que iniciaste com ela a luta corpo a corpo e experimentaste as tuas próprias forças; na realidade, apenas podemos confiar na nossa força quando aqui e ali deparamos com várias dificuldades, sobretudo quando uma vez por outra nos atingem muito de perto.

É assim que se vê até onde chega a verdadeira coragem, aquela que nunca abdicará do seu livre arbítrio; tal situação é a verdadeira pedra de toque do nosso ânimo.

Um atleta que nunca foi ferido é incapaz de afrontar o combate de ânimo alto. Só aquele que viu correr o próprio sangue, que sentiu os dentes rangerem sob os golpes, que, lançado por terra, suportou sobre o corpo o peso do adversário sem, embora abatido, nunca deixar abater o ânimo, só aquele que se ergue com mais energia de cada vez que é derrubado pode descer à arena com esperança de vencer.

Prosseguindo com este símile, direi que já várias vezes a fortuna te deitou ao chão sem que te confessasses vencido; pelo contrário, ergueste-te de novo e retomaste a luta com energia dobrada.

👉 A virtude autêntica ganha novas forças de cada vez que sofre um golpe.

Se estás de acordo, contudo, dar-te-ei conselhos que te ajudarão a reforçar o teu vigor. Mais numerosos são, Lucílio, os nossos temores que as nossas verdadeiras aflições; e mais frequentemente nos angustia a nossa imaginação do que a realidade. Não te estou falando em linguagem de estóico, mas sim em linguagem menos rigorosa.

O que nós, estóicos, de fato afirmamos é que tudo o que nos suscita murmúrios e suspiros não tem a mínima importância e só merece desprezo. Deixemos, portanto, as grandes frases, que, todavia, – ó deuses!, – são bem verdadeiras.

Dar-te-ei somente este preceito: não sejas desgraçado antes de tempo, pois o que tu temes como coisa iminente talvez nunca venha a suceder; pelo menos, é certo que ainda não sucedeu! Certas coisas angustiam-nos mais do que há razão para tal; outras angustiam-nos antes que haja razão; outras angustiam-nos sem a mínima razão. Isto é, ou exageramos o nosso sofrimento, ou o sentimos por antecipação, ou apenas o imaginamos!

Este ponto é controverso e sujeito a discussão: discutamo-lo desde já. Aquilo que eu considero sem importância poderás tu afirmar ser extremamente doloroso: sei bem que há homens capazes de rir sob o chicote enquanto outros gemem a uma simples bofetada. Veremos mais tarde se estas situações se impõem devido à sua gravidade intrínseca ou se o fazem por causa da nossa debilidade.

Por agora toma atenção a este conselho. Quando tiveres à tua volta pessoas empenhadas em persuadir-te de que és um desgraçado pensa bem, não nas palavras que ouves, mas sim naquilo que tu próprio sentes; analisa a tua capacidade de resistência e, pois és o melhor conhecedor de ti mesmo, interroga-te:

“Qual a razão por que eles me lamentam? Por que motivo estremecem, porque receiam que os contagie, como se uma desgraça se pudesse transmitir? O que me aflige é um mal real, ou é antes, somente, um “mal de opinião”?

Pergunta a ti mesmo:

“será que sofro e me aflijo sem motivo, que imagino um mal onde não existe?

Estou a ouvir a tua pergunta:

“Mas como hei-de eu saber se o que me atormenta é imaginário ou é real?”

Aqui tens a receita! Os nossos tormentos existem ou no presente, ou no futuro, ou em ambos. Sobre o presente é fácil ajuizar. O teu corpo está são e escorreito, não foste vítima de qualquer violência física: pois amanhã logo se verá o que sucede, por hoje não há qualquer problema. ‘‘Mas há-de haver!” – dirás tu.

Ora, repara se podemos tomar como argumentos válidos os males futuros! O pânico que nos toma apenas provém de suspeitas, de ilusões. É como na guerra: um boato basta para dar como perdida a batalha; um mero boato faz dum homem um vencido!

É assim mesmo, amigo Lucílio: aceitamos de chofre a opinião vulgar. Não observamos nem analisamos criticamente as causas dos nossos temores; énchemo-nos de medo e largamos a fugir como aqueles soldados que saem do acampamento por verem ao longe a poeira levantada por um rebanho, como aqueles a quem um boató anónimo enche de pânico.

As angústias ilusórias são mesmo mais perturbadoras, não sei porquê! As autênticas ainda mantêm certos limites; as incertas, porém, dão toda a margem às conjecturas e fazem perder o norte aos ânimos medrosos.

Não há tipo de terror tão funesto, tão incontrolável como o pânico; se o medo faz perder a razão, o pânico gera a completa loucura. Analisemos, portanto, a situação com o máximo cuidado.

É natural que no futuro nos suceda um mal qualquer: o fato é que de momento ainda não existe. E quanta coisa não sucede sem nós esperarmos! Quanta coisa nós esperamos que nunca sucede! Mesmo que seja certo um mal futuro, para quê começar a sofrer antecipadamente? Logo sofrerás quando ele chegar; por agora, pensa em coisas mais agradáveis. Assim irás aproveitando o teu tempo: já é uma vantagem!

Muitas circunstâncias podem surgir que suspendam, eliminem ou desviem sobre outro um perigo próximo, ou mesmo já iminente. Um incêndio pode permitir-nos a fuga; um edifício que tomba em ruínas pode depositar-nos no chão, ilesos; uma espada prestes a degolar-nos pode ser desviada; e há quem tenha sobrevivido ao carrasco que lhe fora designado.

A adversidade também tem a sua inconstância. Talvez nos atinja, ou talvez não; entretanto está longe: pensemos em coisas mais alegres!

Frequentemente, sem que ocorra qualquer sinal anunciador de algum mal futuro, o nosso espírito cria ideias falsas. É uma palavra ambígua que se interpreta no sentido mais desfavorável; é uma ofensa, mais grave que na realidade é, que se atribui a alguém, pensando-se não até que ponto esse alguém está irado, mas sim o que ele poderá fazer se estiver irado!

A vida perde qualquer sentido, a desgraça não conhecerá qualquer limite se nos pusermos a recear tudo quanto pode acontecer. Ajude-te neste ponto a tua capacidade de discernimento, e afasta para longe, com força de ânimo, mesmo um medo motivado.

Se o não conseguires, então combate um vício com outro vício, e contrabalança o medo com a esperança. Por muito certos que sejam os nossos temores, mais certo ainda é que um dia o que tememos há-de cessar, tal como o que esperamos nos virá a decepcionar.

Pondera, portanto, os motivos de esperança e de medo, e sempre que as coisas te apareçam todas como ambíguas, age pelo melhor e acredita no que preferires. Ainda que o medo disponha de mais argumentos, mesmo assim toma de preferência este partido: não te deixes perturbar, pensa imediatamente que a maior parte dos homens, sem que qualquer mal os aflija nem os venha a atingir como coisa inevitável, se deixam ir à deriva guiados pelas suas paixões.

Ninguém resiste ao próprio impulso que tomou, ninguém sabe adequar o seu medo à realidade. Ninguém sabe dizer que o medo é mau conselheiro, que gera falsas ideias, ou acredita nelas. Deixamo-nos guiar ao sabor do vento; receamos o ambíguo como se fosse indiscutível; não agimos com conta, peso e medida, uma simples inquietação logo se transforma em terror!

Até sinto vergonha de usar contigo esta linguagem e de te confortar com conselhos tão banais. Um homem vulgar dirá: “Talvez este mal não ocorra!” Tu, porém, deves dizer:

“E se ocorrer, qual é o problema? Veremos qual de nós se deixará vencer! Talvez um mal venha em meu benefício, talvez uma morte assim enobreça a minha vida.”

Foi a cicuta que deu grandeza a Sócrates! Tira a Catão o gládio com que assegurou a sua liberdade, e tirar-lhe-ás grande parte da sua glória! Já estou, porém, a exortar-te há demasiado tempo, quando tu necessitas mais de conselhos práticos que de exortações.

Não te estou conduzindo por uma via contrária à tua natureza: tu nasceste dotado para este tipo de filosofia. Mais uma razão para acrescentares e ilustrares as boas qualidades que já são tuas.

Mas é tempo de terminar esta carta. Só falta imprimir nela o sinete, isto é, citar alguma máxima importante sobre a qual tu medites.

“Entre outros defeitos, a insensatez tem ainda mais este: está sempre no início da vida.

Pondera no que significa esta frase, Lucílio, meu amigo caro entre todos ! Verás como é repugnante a inconstância dos homens que todos os dias constroem novos fundamentos para a sua vida, e que mesmo à beira da morte concebem novas esperanças.

Observa-os um por um: encontrarás alguns velhos que, com o máximo empenho, enveredam pela intriga política, pelas grandes expedições, pela vida dos negócios. Que há de mais repugnante do que um velho iniciando uma nova vida?

Não acrescentaria o nome do autor desta frase se não se desse o fato de ela ser pouco conhecida e não pertencer ao número das máximas divulgadas de Epicuro que eu me tenho permitido citar e adotar como minhas!

Passar bem!