29 de setembro de 2025

Carta 112 – Os homens amam e odeiam ao mesmo tempo os próprios vícios

Por lucianakeiko@gmail.com

Gostaria imenso que esse teu amigo se decidisse a aceitar a formação cultural e moral que tu desejas para ele.

Só que ele já está duro demais para isso.

Melhor dizendo – e isto até torna as coisas mais difíceis! – , ele já está demasiado amolecido, sem forças devido aos maus hábitos que há muito contraiu.

Vou dar-te um exemplo colhido na minha experiência prática. Não é qualquer videira que aguenta um enxerto. Se é velha já e carcomida, se demasiado doente e frágil, ou rejeita o ramo enxertado, ou então não o alimenta nem o deixa colar a si, nem se adapta à qualidade natural do enxerto.

Por isso costumamos cortar a parte que está acima da terra para que, se o enxerto não resultar, possamos fazer uma segunda tentativa, aplicando-o desta vez na parte que ficou enterrada.

Este homem que me recomendas na tua carta não tem a mínima energia, de tanto se ter abandonado aos vícios. Tornou-se simultaneamente mais fraco e mais endurecido: não consegue aceitar como guia a razão nem fazê-la frutificar em si.

“Mas ele está cheio de vontade!”

Não te convenças disso. Não digo que ele te esteja a mentir. Pode estar sinceramente convicto do seu desejo. Anda irritado agora com a sua libertinagem, mas não tardará muito a reconciliar-se com ela.

“No entanto, ele afirma que a vida que leva o desgosta.”

Não digo o contrário ! Quem se não desgosta ? Os homens amam e odeiam ao mesmo tempo os próprios vícios. Por isso só me pronunciarei em definitivo sobre o teu amigo quando ele me der garantias de que criou horror à libertinagem: por enquanto, há entre ambos apenas um arrufo !

Passar Bem!