Carta 104 – Não, não é porque a teoria seja difícil que não ousamos praticá-la; pelo contrário, por nós não ousarmos praticá-la é que ela se nos afigura difícil!
Fui para a minha quinta de Nomento para fugir…imagina a quê? À cidade? Não, a um acesso de febre, de uma febre bastante insidiosa que já começara a agarrar-me com força. O médico dizia que os indícios lá estavam: pulsação acelerada e irregular, completa alteração do ritmo normal. Assim, mandei imediatamente aprestar o carro e, embora Paulina me tentasse reter, teimei em partir para o campo.
Veio-me à boca um dito do meu estimado Galião que um dia, ao apanhar na Acaia um acesso de febre, embarcou de imediato clamando que o mal estava no clima e não no seu corpo. Repeti estas mesmas palavras à minha Paulina, que está sempre a recomendar-me cuidado com a saúde. E como eu sei que a sua existência está totalmente dependente da minha, para velar por ela tenho de começar a velar por mim próprio. A velhice já me tornara capaz de afrontar mil e um perigos; agora estou perdendo o benefício da idade, pois veio-me à ideia que neste velho que eu sou existe um adolescente que é necessário poupar. (1)
Em suma, não consigo de Paulina que me ame com mais coragem, mas ela consegue de mim que eu me cuide com mais atenção. Há que respeitar os afetos nobres. Por vezes, mesmo em circunstâncias desesperadas, a nossa alma prestes a exalar-se deve ser refreada, retida mesmo no último instante, por muito que isso custe, se a honra dos familiares o exigir: um homem de bem tem de viver, não enquanto lhe apraz, mas enquanto a sua vida for necessária.
Só um obstinado egoísta teima em morrer sem admitir que uma esposa ou um amigo lhe merecem o sacrifício de prolongar um pouco mais a existência. Quando o interesse dos familiares o exige, a alma deve impor a si mesma a vida; pode ter decidido o suicídio, pode mesmo já ter iniciado o processo: pois que desista e se ponha à disposição dos que dela precisam.
Demonstra um grande coração quem se resigna à vida no interesse dos outros, o que, aliás, muitos grandes homens têm feito. Considero ainda prova da maior consideração pelo próximo o fato de cuidarmos com maior atenção da nossa velhice (desta velhice cuja principal vantagem é o acréscimo de segurança e de ânimo com que encaramos a existência) caso verifiquemos que a nossa presença é agradável, útil, preciosa para qualquer familiar.
Em si mesma tal atitude reveste-se de uma não despicienda alegria e compensação. Que pode um homem sentir de mais estimulante do que saber-se tão amado da própria mulher que, por isso apenas, a existência se lhe torna mais amável? E aqui tens como eu fico a dever à minha Paulina não só os seus cuidados mas ainda os meus próprios para comigo!
Queres saber que resultado obtive com a minha decisão de sair de Roma? Mal me afastei do ar pesado da cidade, deste cheiro de cozinhas fumegantes em atividade, expelindo de mistura com toda a casta de impurezas os pestilentos vapores que nelas se concentram, imediatamente senti uma alteração na minha saúde. E o redobrar de energia que me invadiu ao chegar às minhas vinhas? Como animal solto no pasto, comecei a alimentar-me generosamente. Recuperei por completo. Foi-se a debilidade que me manietava o corpo e perturbava o espírito.
Voltei ao trabalho de alma e coração. Para tanto a mudança de local não contribui grandemente se a alma não se entrega por completo a si mesma. Aliás, mesmo no meio das ocupações, é possível, caso se queira, conseguir um momento de solidão. Quem, pelo contrário, anda sempre a mudar de sítio em busca de tranquilidade encontrará sempre motivos de perturbação onde quer que esteja. Houve uma vez um homem que se queixou a Sócrates de nunca ter tirado proveito das suas viagens.
“Não admira!” –
respondeu o filósofo.
“Viajaste sempre na companhia de ti próprio!”
Como beneficiariam certas pessoas se conseguissem afastar-se de si mesmas! Na realidade, são elas a causa das próprias angústias, cuidados, aflições e receios. De que serve atravessar o mar andando sempre de uma cidade para outra? Se queres escapar aos males que te afligem, precisas de te tornar outro homem, e não de mudar de sítio.
Imagina que vais parar a Atenas, a Rodes, ou a qualquer outra cidade à tua escolha. Que importância têm os costumes dessa cidade se tu levas para lá os teus próprios? Se consideras a riqueza como um bem sentir-te-ás atormentado pela pobreza, e pela pobreza imaginária, que é o pior de tudo! Embora sejam amplas as tuas posses, basta que outro possua mais do que tu para te sentires tanto mais carenciado quanto menos rico fores do que o outro.
Se consideras como um bem a carreira das honras, a eleição de fulano ou a reeleição de cicrano para o consulado causar-te-á mal-estar: ver várias vezes o nome de alguém inscrito nos fastos encher-te-á de inveja. Tal será a tua louca ambição que até te parece não haver ninguém atrás de ti só porque há alguém à tua frente. Imaginarás que a morte é o maior dos males quando, afinal, o único mal que nela há é o medo que inspira antes de chegar. Sentir-te-ás aterrorizado não só diante de um perigo real mas até diante de um perigo imaginário. Em suma, sempre vãos cuidados te abalarão o espírito. De que poderá servir
“ter evitado tantas cidades argólicas,
ter conseguido fugir pelo meio dos inimigos?” (2)
A própria paz será um manancial de receios. Quando o espírito se deixa aterrorizar, uma vez que seja, deixa de confiar na segurança e, quando ganha o hábito do terror irracional, torna-se incapaz de assegurar a própria conservação. Não evita os perigos, foge deles. Ora, nós estamos mais sujeitos ao perigo quando lhe viramos as costas! Tu considerarás como o maior dos males a perda de algum ente querido, o que é uma atitude tão insensata como pôres-te a chorar quando, às belas árvores que adornam a tua casa, começam a cair as folhas.
Contempla o que te dá prazer tal como olhas para a folhagem verdejante: goza dela enquanto viçosa. Hoje um, amanhã outro, o acaso os irá abatendo, a esses entes queridos que são para ti o que há de melhor na vida; mas tal como suportas sem custo a queda das folhas porque elas hão-de renascer, suporta igualmente a sua perda, já que eles, se não renascem, hão-de ser substituídos.
“Mas já não serão os mesmos!”
Pois não! Nem sequer tu serás o mesmo. Cada dia, cada hora te vão modificando. O desgaste operado pelo tempo é mais visível nos outros, enquanto em ti age subrepticiamente e por isso passa despercebido.
O tempo rouba-nos a presença dos outros, mas também nós vamos perdendo parte do que éramos. Em vez de meditares nesta realidade e assim conseguires remédio para as tuas feridas preferes deixar-te enredar pela angústia, entregando-te ora à esperança ora ao desespero? Se fores sensato, procura harmonizar as duas atitudes, nem entregando-te à esperança sem algo de desprendimento, nem ao desprendimento sem uma réstea de esperança.
Que utilidade pode ter, para quem quer que seja, o simples fato de viajar? Não é isso que modera os prazeres, que refreia os desejos, que reprime a ira, que quebra os excessos das paixões eróticas, que, em suma, arranca os males que povoam a alma. Não faculta o discernimento nem dissipa o erro, apenas detém a atenção momentaneamente pelo atrativo da novidade, como a uma criança que pasma perante algo que nunca viu!
Além disso, o contínuo movimento de um lado para o outro acentua a instabilidade (já de si considerável!) do espírito, tornando-o ainda mais inconstante e incapaz de se fixar. Os viajantes abandonam ainda com mais vontade os lugares que tanto desejavam visitar; atravessam-nos voando corno aves, vão-se ainda mais depressa do que vieram.
Viajar dá-nos a conhecer novas gentes, mostra-nos formações montanhosas desconhecidas, planícies habitualmente não visitadas, ou vales irrigados por nascentes inesgotáveis; proporciona-nos a observação de algum rio de características invulgares, como o Nilo extravasando com as cheias de Verão, o Tigre, que desaparece à nossa vista e faz debaixo de terra parte do seu curso, retomando mais longe o seu abundante caudal, (3) ou ainda o Meandro, tema favorito das lucubrações dos poetas, contorcendo-se em incontáveis sinuosidades, fazendo incessantemente ainda mais um circuito antes de enfim descansar no leito de que se aproxima.
Mas viajar não torna ninguém melhor de carácter nem mais são de espírito. Teremos de nos aplicar ao estudo, de frequentar os mestres da filosofia, a fim de assimilarmos os princípios já estabelecidos e investigar o que ainda está por descobrir. Só assim a alma se pode arrancar à mais dura servidão e alcançar a verdadeira liberdade.
Enquanto ignorares a distinção entre o evitável e o desejável, o necessário e o supérfluo, o justo e o injusto, o moral e o imoral – nunca serás um viajante, mas apenas um ser à deriva.
As tuas deambulações não te trarão qualquer proveito, já que viajas na companhia das tuas paixões, seguido sempre pelos males que te dominam. E bom era que estes males apenas te seguissem ! Bom era que eles estivessem longe de ti! O que se passa, porém, que os levas em cima, e não atrás de ti.
Deste modo, onde quer que estejas, eles oprimem-te, destroem-te com a mesma virulência. Um doente precisa que se lhe indique um remédio, não um panorama. Se um homem parte uma perna ou faz uma entorse não vai pôr-se a passear de carro ou de barco: manda, sim, é chamar um médico que lhe ligue o membro partido ou ponha no seu lugar o osso deslocado.
Ora bem: acaso pensas tu que uma alma quebrada ou torcida em tantos lugares pode tratar-se com uma simples mudança de ambiente? Não, esta doença é demasiado grave para curar-se com um passeio! A formação de um médico ou de um orador não se faz em viagem; a aprendizagem de qualquer arte não depende da geografia. Como pensar que a sabedoria, a mais importante das artes, se pode adquirir saltando daqui para acolá? !
Podes crer que ** nenhuma viagem te põe ao abrigo do desejo, da ira, do medo** ; se tal fosse o caso, todo o género humano começaria em massa a viajar. Estes males não cessarão de atormentar-te, de desgastar-te ao longo das tuas viagens, terrestres ou marítimas, enquanto tiveres em ti as suas causas. Admiras-te que de nada valha fugir quando tens dentro de ti aquilo de que foges?
Corrige o teu carácter , elimina os entraves que te tolhém, mantém os teus desejos nos limites do razoável; expurga da tua alma todo o resquício de maldade. Se queres gozar do prazer de viajar, trata antes de mais o teu companheiro de viagem! Terás sempre contigo a avareza enquanto conviveres com um mesquinho avarento; terás contigo o orgulho enquanto frequentares os soberbos; nunca te livrarás da crueldade na convivência de um torcionário; a camaradagem dos adúlteros não fará senão excitar os teus apetites eróticos. Se queres abandonar os vícios tens de afastar-te dos exemplos que convidam ao vício. O avarento, o sedutor, o sádico, o vigarista (que já bem nocivos te seriam se apenas te fizessem companhia! ) estão mesmo dentro de ti.
Junta-te à companhia dos homens de bem , convive com os Catões, com Lélio, com Tuberão. Se preferires também o convívio com os Gregos, junta-te a Sócrates ou a Zenão: o primeiro ensinar-te-á a morrer quando a necessidade o impuser, o segundo a fazê-lo antes que a necessidade o imponha.
Convive com Crisipo ou com Posidónio: eles te darão o conhecimento das realidades humanas e divinas, eles te incitarão a agir, não apenas a falar com talento, a lançar palavras para deleite do auditório, mas a fortalecer a alma e a pô-la em condições de afrontar qualquer ameaça. O único porto onde pode abrigar-se esta vida agitada e conturbada está em saber desprezar as casualidades, em mantermo-nos firmes, em estarmos preparados para receber em pleno peito os golpes da fortuna sem nos encolhermos nem virarmos as costas.
A natureza dotou-nos de uma alma receptiva ao sublime; tal como a alguns animais dotou de ferocidade, a outros de astúcia, a outros de medo, também ao homem dotou de um espírito glorioso e elevado que busca como forma de vida não a mais segura mas sim a mais digna, à semelhança do universo, a quem, tanto quanto permite o andamento de seres mortais, procura imitar e emular; em cada passo em frente que dá, o homem sente-se alvo de incitamento e atenção.
É senhor de tudo, está acima de tudo o mais; por isso mesmo nada há a que se submeta, nada que lhe pareça insuportável, nada que faça vergar a sua energia.
“Formas de temível aspecto, a Morte, o Sofrimento;”!) Vergílio, Aen., VI, 277.
nada temíveis, para quem as possa encarar com olhos de ver e for capaz de discernir para além da névoa que as encobre; também há muita coisa que de noite nos mete medo mas à luz do dia apenas dá vontade de rir.
“Formas de temível aspecto, a Morte, o Sofrimento:”
temíveis, não na realidade mas pelo aspecto, lhes chamou, e muito bem, o nosso Virgílio, ou seja, parecem temíveis sem o serem. O que há nelas, pergunto eu, que seja de fato tão terrível como a opinião vulgar pretende fazer crer?
Diz-me, por favor, Lucílio: porque há-de um homem temer o sofrimento, porque há-de um ser humano recear a morte? Estou farto de encontrar pessoas que não acreditam que seja possível alguém fazer o que elas próprias são incapazes de fazer; segundo elas, as nossas doutrinas excedem as possibilidades da natureza humana. Dessas pessoas eu tenho melhor opinião do que elas próprias: todas elas são capazes de seguir a nossa teoria, só que não o querem. Ao fim e ao cabo, quem é que alguma vez a tentou seguir que se tenha visto traído por ela? Quem é que não a achou mais fácil de pôr em prática do que parecia? Não, não é porque a teoria seja difícil que não ousamos praticá-la; pelo contrário, por nós não ousarmos praticá-la é que ela se nos afigura difícil!
E se quereis um exemplo concreto, tomai o caso de Sócrates, esse velho que suportou tudo quanto imaginar se pode, que passou todas as agruras da vida sem se deixar vencer pela pobreza (que os encargos domésticos consideravelmente agravavam) ou pelo esforço físico, ele que cumpriu na Íntegra todas as tarefas militares. Sem falar em tudo por que ele passou na sua vida familiar, quer o carácter intratável e a língua afiada da mulher, quer a rebeldia dos filhos que mais se assemelhavam à mãe do que ao pai, ou o que sofreu na guerra, durante o período dos tiranos ou sob uma democracia mais cruel ainda do que as guerras ou os tiranos.
A guerra durara vinte e sete anos; findas as hostilidades, Atenas viu-se entregue às exacções dos trinta tiranos, na sua maior parte inimigos pessoais de Sócrates. Para cúmulo a condenação à morte, como resultado de gravíssimas acusações: Sócrates era acusado de desrespeito pela religião e de corromper a juventude, incitando-a contra os deuses, os próprios pais, o Estado. Resultado: a prisão e o veneno. Nada disto, contudo, abalou minimamente o ânimo de Sócrates, tal como lhe não alterou a fisionomia. Admirável, única, é verdadeiramente a glória deste homem! Até ao último momento ninguém viu que Sócrates se tornasse ou mais alegre ou mais triste; no meio da maior inconstância da fortuna ele manteve-se constante até ao fim.
Queres outro exemplo? Vê o caso de M. Catão, o jovem, com quem a fortuna se mostrou mais insistentemente hostil ainda, contrariando-o em todas as circunstâncias e, por fim, à hora da morte. Apenas conseguiu provar, contudo, que um homem de coragem pode viver, pode até morrer mesmo com a hostilidade da fortuna. Toda a existência de Catão decorreu ou no meio da agitação social armada ou quando já estava em gestação a guerra civil declarada. Também de Catão se pode dizer, como de Sócrates, que se eximiu pela morte à servidão. (4) A menos que se pense que Pompeio, César e Crasso se conluiaram para defender a liberdade!. .. Ninguém viu mutação alguma em Catão no meio de todas as mutações da república; em todas as circunstâncias (como pretor, depois expulso da pretura, acusador público(5), magistrado provincial, perante a assembleia, no exército, ao morrer) permaneceu igual a si mesmo.
Finalmente, no meio da agonia da república, com César a um lado à frente de dez legiões de elite e de todas as suas tropas auxiliares estrangeiras, e Gn. Pompeio de outro lado, ele sozinho bastou para fazer frente a todos; enquanto uns tomavam o partido de César e outros o de Pompeio, Catão foi o único que abraçou o partido da república. Se quiseres, num esforço de imaginação, representar no teu espírito a situação que se vivia na época, verás de um lado a plebe, a totalidade da massa empenhada na revolução, do outro lado as classes senatorial e equestre, tudo quanto de nobre e escolhido havia na cidade, e no meio, sozinhos, abandonados, Catão e a república! Serás tomado de admiração, digo-te eu, quando vires
“o Atrida e Príamo, e Aquiles de ambos inimigo/” (6)
Catão acusa um como acusa o outro, procura que ambos deponham as armas. Ajuíza ambos os contendores dizendo que, se vencer César, opta pela morte, se Pompeio, pelo exílio. Que podia Catão temer se ele próprio não decretou para si mesmo, vencido ou vencedor, senão o que a ira dos inimigos lhe imporia? Foi, portanto, em obediência à sua decisão que ele morreu!
Podes ver por este exemplo como os homens são capazes de suportar o cansaço: a pé, Catão conduziu o exército através dos desertos africanos. Podes ver como é possível suportar a sede: nas ardentes colinas de África, chefiando os restos de um exército vencido, sem dispor de abastecimentos, ele aguentou, sem despir a armadura, a falta de água, e quando ocasionalmente havia ensejo de beber um pouco, Catão era o último a fazê-lo. Podes ver como é possível desprezar as honras e a ignomínia: no mesmo dia em que foi rejeitado da pretura foi para o terreiro dos comícios jogar à bola!
Podes ver como é possível não sentir medo algum dos poderosos: Catão desafiou simultaneamente Pompeio e César, quando toda a gente só se incompatibilizava com um deles para cair nas boas graças do outro.
Podes ver como é possível desprezar tanto a morte como o exílio: foi Carão quem impôs a si mesmo o exílio, a morte e, entre um e outra, a guerra. Todos somos capazes de mostrar o mesmo ânimo em face destas circunstâncias, desde que dispostos a subtrair-nos ao jugo.
Antes de mais nada, importa renunciar aos prazeres: tiram-nos a energia, efeminam-nos, abafam-nos de exigências para cuja satisfação temos de recorrer à fortuna.
Depois, há que desprezar as riquezas – salário que recebemos em troca de servidão. Ponhamos de lado o ouro, a prata e tudo o mais que enche as casas opulentas.
A liberdade não se obtém de mão beijada, e se damos grande valor à liberdade teremos de dar reduzido valor a tudo o mais.
Passar Bem!
(1) Parece-nos transparente o que Séneca pretende dizer com esta frase: embora a idade avançada o pudesse já levar a negligenciar os cuidados com a saúde, a sua relação com Paulina obrigava-o, pelo contrário, a cuidar de si, não em interesse próprio mas no interesse de Paulina; ou seja, o velho perde o benefício da idade e tem de velar pela saúde como se fosse ainda um jovem. Não entendemos por isso como F. Préchac, na edição Budé, considera o texto perohscurum (1) e decide submetê-lo a tratos de polé para conseguir extrair algum sentido, numa tentativa que apenas resulta em explicar obscurum per obscurius.
(2) Vergílio, Aen., III, 282-3
(3) Cf. Naturales Quaestiones, III, 26, 1: “(0 Tigre) desaparece no solo, permanece <x.ulto em grande extensão, e vai reaparecer num ponto bastante afastado, mas sem que haja dúvidas de que se trata do mesmo rio”. – Alusão às modificaçôes sofridas pelo curso do rio e às diferenças consideráveis de volume de caudal conforme as épocas do ano.
(4) A tradução corresponde a conjectura de Haase: seruituti se eduxisse, a que acrescentámos “pela morte”, uma ,vez que Séneca se refere com extrema frequência ao suicídio de Catão. De qualquer modo a tradução é conjectural, dadas as corruptelas dos mss.
(5) Por exemplo, aquando da conjura de Carilina, v. Salúsrio, Cat., 52.
(6) Vergílio, Aen., I, 458. Aquiles representa Carão, o Atrida (= Agamémnon) e Príamo correspondem a Pompeio e César.