Autor: lucianakeiko@gmail.com

27 de julho de 2025

Carta 48 – A amizade estabelece entre nós uma comunhão total de interesses

À carta que me enviaste durante a tua viagem, tão longa como a própria viagem, responderei mais tarde: tenho de me concentrar e analisar com cuidado os conselhos a dar-te. Tu mesmo, ao fazeres essa consulta, deliberaste longamente se me havias de consultar. Outro tanto devo eu fazer, e com mais razão, já que é preciso mais tempo para resolver um problema do que para apresentá-lo. Tanto mais ainda […]

26 de julho de 2025

Carta 47 – Nenhuma servidão é mais degradante do que a voluntariamente assumida

Foi com prazer que ouvi dizer a pessoas vindas de junto de ti que vives com os teus escravos como se fossem teus familiares. Isso só atesta que és um espírito bem formado e culto. “São escravos”. Não, são homens.“São escravos”. Não, são camaradas.“São escravos”. Não, são amigos mais humildes.“São escravos”. Não, são companheiros de servidão, se pensares que rodos estamos sujeitos aos mesmos golpes da fortuna. Por isso […]

25 de julho de 2025

Carta 46 – Mesmo sem motivo, mente-se por hábito!

Chegou-me às mãos aquele teu livro que me havias prometido. Na intenção de o ler com mais vagar, limitei-me a abri-lo, como que para prová-lo. Ele mesmo, porém, me tentou a prolongar a leitura. E podes compreender como me foi grata a sua linguagem se te disser que é de leitura fácil, muito embora exceda as dimensões habituais das minhas obras e das tuas, parecendo à primeira vista […]

24 de julho de 2025

Carta 45 – É a casos destes que devemos atribuir as designações exatas

Queixas-te de teres aí falta de livros. Não interessa a quantidade, mas sim a qualidade: a leitura é proveitosa se for metódica, se apenas for variada torna-se um mero divertimento. Quem deseja chegar à meta que se propôs deve seguir um só caminho, e não vaguear por vários: de outro modo não viaja, deixa-se ir ao acaso. Vais responder-me que me não pedes conselhos, mas sim que […]

23 de julho de 2025

Carta 44 – Platão não chegou à filosofia por ser nobre, ela é que o enobreceu

Aí estás de novo a portar-te como um garoto, a queixar-te de seres pouco dotado pela natureza, a princípio, pela fortuna em seguida, quando afinal está na tua mão distinguires-te do vulgar e ergueres-te ao máximo de felicidade possível ao homem. Se outras vantagens, além de si mesma, a filosofia possui, entre elas se contará a indiferença pelas árvores genealógicas: se buscarmos as mais remotas origens, veremos que todo […]

22 de julho de 2025

Carta 43 – Desgraçado serás tu se desprezares o teu próprio testemunho!

Estás desejoso de saber como tive conhecimento do caso, quem me contou essa ideia tua que tu nunca contaste a ninguém? Foi aquele ser que quase tudo sabe: o boato. “O quê?” – dizes tu – “Eu sou assim tão importante para dar azo a boatos?” Não deves medir-te em relação à distância que te separa de Roma, mas sim em relação ao lugar onde resides. Qualquer […]

21 de julho de 2025

Carta 42 – Quem é dono de si próprio não pode perder nada

Então esse cavalheiro conseguiu convencer-te de que era um homem de bem?! Olha que um homem de bem não é coisa que surja e se reconheça por tal assim tão depressa! E sabes o que eu entendo aqui por “homem de bem”? Apenas o de segunda categoria, porque o de primeira é como a fénix, que só aparece uma em quinhentos anos. Não é de espantar […]

20 de julho de 2025

Carta 41 – Ninguém deve vangloriar-se senão do que lhe pertence

É uma empresa excelente e salutar a tua, se de fato, conforme me escreves, continuas a avançar rumo à sabedoria, a essa sabedoria que, por estar ao teu alcance obtê-la, seria estupidez ir suplicar aos templos. Não é preciso elevar as mãos ao céu nem pedir ao ministro do culto que nos deixe formular votos ao ouvido da estátua do deus, como se assim nos fosse mais […]

19 de julho de 2025

Carta 40 – Como pode então servir para governar os espíritos uma eloquência incapaz de governar-se a si própria?

Agradeço-te a frequência com que me escreves, pois é esse o único meio de que dispões para vires à minha presença. Nunca recebo uma carta tua sem que, imediatamente, fiquemos na companhia um do outro. Se nós gostamos de contemplar os retratos de amigos ausentes como forma de renovar saudosas recordações, como consolação ainda que ilusória e fugaz, como não havemos de gostar de receber uma […]

18 de julho de 2025

Carta 39 – Em vez de os desfrutar, tornam-se escravos do prazer; e, para cúmulo da desgraça, acabam por amar aquilo mesmo que os torna desgraçados.

Descansa que hei-de escrever um tratado de filosofia, bem sistematizado e sintetizado, conforme tu me pedes. Em todo o caso vê se não te será mais útil continuar com o nosso método habitual em vez de empregar estes volumes a que agora se chama vulgarmente “manuais” e a que antigamente, quando ainda se falava latim, se dava o nome de “compêndios”. O primeiro método é sobretudo indispensável […]